Olá, pessoal.
Que saudade! Hoje inicio um novo projeto aqui no blog e, confesso de
antemão que, apesar de ser um grande desafio, é também um trabalho desempenhado
com muito amor: a estreia da coluna Vestibular! O intuito principal é
apresentar breves análises de obras prestigiadas em processos seletivos de
grandes universidades públicas do país, sendo elas de Literatura, Sociologia e
Filosofia. Espero poder contribuir com o aprendizado de vocês! Lembrando que não possuo nenhuma formação acadêmica que me
permita analisar de maneira mais profunda os conteúdos dos livros, apenas farei um breve resumo das obras,
apresentando o meu ponto de vista como leitora, apoiado em pesquisas para
contextualização.
O primeiro título escolhido faz parte da lista de leitura obrigatória
da UFPR: “Sermão de Santo Antonio (aos peixes)”.
Pregado em São Luís do Maranhão, datado de 13 de junho de 1654, pelo
padre Antonio Vieira (que foi um grande representante da prosa Barroca), a obra
foi escrita em uma época em que o padre lutava fortemente contra a escravidão
indígena e a exploração portuguesa (período conhecido como Era Mercantil).
O enfoque do texto é discutir sobre as virtudes e vícios humanos,
demonstrando assim, uma grande preocupação social. A construção literária conta
com o emprego de metáforas e símbolos, usados para elaborar críticas à conduta
exploradora dos colonos, por meio de argumentações diretas.
Os peixes citados na obra nada mais são do que os próprios homens. O
desenvolvimento da alegoria trata de expor as principais qualidades e repreensões
dos mesmos, de modo que o leitor consiga facilmente transpor essas
características ao próprio comportamento e às relações sociais. O que achei
mais fantástico é a contemporaneidade dos temas abordados: ganância e
corrupção.
"A vaidade entre
os vícios é o pescador mais astuto e que mais facilmente engana os
homens."
ENTENDENDO AS METÁFORAS:
A primeira metáfora do sermão é o “SAL DA TERRA”. Nesse momento, Vieira refere-se aos pregadores da Palavra. Segundo
ele, seria responsabilidade dos pregadores impedirem a corrupção dos fiéis,
utilizando da pregação e da prática real de seus discursos.
Em seguida, ele passa a exaltar as qualidades dos “PEIXES” (que nesse
contexto, trata-se dos fiéis a Cristo). A principal qualidade nesse trecho é a
OBEDIÊNCIA.
A partir de então ele cita diversas situações em que peixes se
mostraram virtuosos. Os exemplos dados são: o “PEIXE DE TOBIAS” (que curou a
cegueira e tirou mágoas do coração), a “RÊMORA” (representa a força da palavra
de Santo Antonio), “QUATRO-OLHOS” (representando a capacidade de distinguir o
bem e o mal) e o “TORPEDO” (representa a conversão).
Por fim, o padre enumera repreensões aos peixes, devidamente
exemplificadas: os “RONCADORES” (representando a soberba, o orgulho), os “PEGADORES”
(representando o oportunismo), os “VOADORES” (representando a ambição) e o “POLVO”
(representa a traição).
“Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.
Quem pode nadar e quer voar, tempo virá em que não voe nem nade."
Na conclusão do sermão, Vieira exalta os peixes que, devido a sua
natureza, não podem ser sacrificados vivos a Deus e sacrificam-se em sinal de respeito e
reverência. Foi uma leitura extremamente rápida e agradável. Apesar de a
linguagem ser um pouco mais rebuscada e do conteúdo do texto ser alegórico e
carregado de antíteses, consegui ler o livro em duas horas, isso por conta do
talento de Antonio Vieira em construir um discurso fortemente argumentativo e
questionador. Uma verdadeira joia literária.
Espero ter conseguido sintetizar a beleza e importância social desse
texto. Esse ano tive meu primeiro contato com a obra e fiquei encantada.
O post da semana que vem ajudará vocês a lembrarem dos períodos da
Literatura Brasileira com suas principais características e autores. Não
percam!
Quem já leu essa obra para o vestibular? O que achou? Deixem sugestões
de resenhas para o vestibular nos comentários!